Este artigo faz-se necessário para tentar ajudar o leitor a entender melhor a grande diferença que há entre o verdadeiro sentimento e o sentimentalismo, que nos parece ser hoje de maior predominância no meio social, não obstante haja, a médio e longo prazo, uma tendência de inversão, já que, inexoravelmente, evoluiremos nossa consciência individual e coletiva.
Necessário faz-se conceituarmos ambos para que possamos ao final comparar suas diferenças. Senão vejamos:
Sentimento é algo sublime, corresponde à nossa capacidade de sentir e de expressar o que se sente, ou seja, expressar um sentimento é servir de canal, aquele que recebe e que permite fluir em si a energia primordial. Porém, não se trata de qualquer energia, mas sim de energia elevada, a qual Platão chamava de arquétipos, ou seja, de ideias mais próximas da Divindade.
Por isso, não podemos confundir sentimentos com emoções e muito menos com sentimentalismo, já que os sentimentos pertencem a um plano superior de energia. Como exemplo de sentimentos, podemos citar o amor incondicional, a compaixão, o sentimento de liberdade e de glória, sentimentos esses raramente experimentados pelo homem comum.
Sentimentalismo é a expressão vazia de um pseudo-sentimento. É uma forma de preencher o vazio pela ausência de verdadeiros sentimentos e, por isso, à medida que vamos conquistando a capacidade de viver sentimentos, automaticamente vamos desprovendo-nos do sentimentalismo.
Sentimentalismo é um vício da alma, advém de nossa incapacidade de amar, de imaginar e de nos colocarmos em nossa missão. Ele atua no sentido de dispersar nossa atenção desviando nosso foco daquilo que de fato é importante para nossa evolução e mantendo-nos na futilidade.
Uma pessoa sentimentalista tem uma autoimagem distorcida da realidade. Ela se imagina alguém generosa, preocupada com o mundo e com todos, em especial com os mais fracos e necessitados. Normalmente, manifesta seu sentimentalismo lastimando e lamentando o sofrimento dos outros, não somente das pessoas próximas, mas também de pessoas de outros continentes, pois seu coração parece tão grande que não importa a distância para manifestar seu amor à humanidade.
Geralmente, o sentimentalismo volta-se a si mesmo, tornando-se, nesse caso, a lamúria ou o que denominamos autocomiseração, ou seja, a piedade de si mesmo. Essas são as pessoas que se colocam como sofredoras e reparadoras do mundo, como se carregassem a cruz da humanidade sozinhas, porém não percebem que estão mergulhadas no vitimismo. Tanto isso é verdade que, ao observarmos suas vidas, nos deparamos com sofrimento, desordem, injustiça, etc. o que não se observaria naquelas que são capazes de canalizar sentimentos elevados em suas vidas e, certamente, conduzi-las segundo esses valores superiores.
Em alguns casos, para tornar o sentimentalismo mais real e alimentar a autoimagem distorcida que fazemos de nós mesmos, tornando-se mais convincente ao próprio agente, nosso ego assume trabalhos voluntários ou, ainda, participa de campanhas altruístas, normalmente movimentos de arrecadação e doação de bens ou alimentos aos necessitados e outras formas de ajuda. Porém, quando coloca o foco no outro, na verdade está focando si mesmo, como num jogo de espelhos.
O sentimentalismo também costuma vir com languidez, ou seja, com uma forma falsa de querer mostrar amor às pessoas, amor esse que não existe.
Enquanto não identificarmos em nós os verdadeiros motores que jazem por detrás de nossas ações, pensamentos e emoções, ainda não nos teremos conhecido o suficiente para conduzir uma evolução séria, ou seja, estaremos à margem de nosso próprio EU e, consequentemente, reféns de nosso sentimentalismo.
Mais sentimento e menos sentimentalismo.