Creio que seja pacífico que um dos maiores problemas da humanidade seja a escassa capacidade de convivência. A arte da convivência consiste em sabermos primeiramente lidar com nós mesmos, para somente depois ampliarmos esta capacidade com relação às demais pessoas e com todos os demais reinos da natureza. Desta forma, torna-se possível no futuro construirmos uma grande Fraternidade, passo necessário para construirmos a Confraternidade e, mais além, a Concórdia que, não obstante levarem nomes diferentes, guardam em comum a mesma essência.
O sentido denotativo da palavra convivência traz-nos a seguinte definição: advém do latim: conviventia, ato ou efeito de conviver, relações íntimas, familiaridade, convívio, trato diário.
O homem é um ser definitivamente social. Muitos reclamam das dificuldades advindas da convivência, porém não abrem mão de suas famílias, dos amigos e do convívio social em geral e isso somente reforça o senso comum dos sociólogos de que o homem nasceu para viver em sociedade. Porém, como tudo pertencente à criação, há um motivo que sustenta esta verdade que, segundo a filosofia e a psicologia, é a necessidade do cumprimento de uma das grandes Leis universais – a evolução, ou seja, estamos encarnados neste mundo denso com a finalidade de evoluirmos e o fazemos através do aprendizado adquirido com a convivência.
O outro nos revela – esta verdade bem entendida e praticada pode trazer-nos o autoconhecimento através da convivência. Preste atenção leitor, tudo o que nos incomoda no outro é porque está dentro de nós. Isso mesmo, perceba que as pessoas às quais nomeamos como inimigos, na verdade são aquelas que mais nos ensinam, pois tocam em nossos pontos fracos, mostram-nos onde devemos trabalhar para construir uma personalidade de fato alinhada e estruturada.
Conviver é difícil, porém nos destitui de tudo aquilo que não faz parte de nós, ou seja, somente conquistamos a capacidade de conviver quando nos limpamos de nossos excessos e, por excesso, entenda tudo aquilo que está em desequilíbrio em nós, por exemplo, nossa incapacidade de aceitação de tudo o que não esteja de acordo com aquilo que entendemos ser o correto ou o que nos agrada. Portanto, difícil não é conviver, mas sim a condição de enfrentamento de nós mesmos que é imposta para todo aquele que deseja conviver.
Eu o convido a analisar sua vida e perceber que quando fugimos do confronto com pessoas de difícil convivência, que nos incomodam, nos magoam e nos tecem críticas, outras pessoas iguais ou com traços bem semelhantes aparecer-nos-ão em outras oportunidades para trazer-nos novamente a mesma oportunidade, a mesma experiência, para que, quem sabe agora, na forma de uma redenção, possamos reviver as mesmas questões internas ainda não resolvidas em nós mesmos.
Nosso grande erro na convivência é querer mudar o outro. Não entendemos ainda que não se trata de mudar o outro, seja qual seja a situação. A chave para a evolução é mudar nós mesmos, mesmo que o outro insista em não mudar.
Atualmente vivemos um grande engodo. Mal conseguimos falar com as pessoas, pois estão muito ocupadas com as redes sociais e em seus telefones celulares. Ampliamos exponencialmente nossos contatos, falamos a longas distâncias com pessoas que acabamos de conhecer virtualmente, chats, vídeo conferências. No entanto, estamos na contramão evolutiva e isto se explica por um motivo muito simples. Ao ampliarmos nossos contatos virtuais, reduzimos mais que proporcionalmente os nossos contatos humanos, ou seja, uma curtida no facebook não substitui um caloroso abraço ou aperto de mão; olhar na tela ou no texto digitado não substitui o contato direto dos olhos – um simples olhar tem o poder de tocar nossa alma, o que jamais será substituído por mais avançada que seja nossa tecnologia no campo da comunicação.
A capacidade de conviver conduz-nos à fraternidade, que é a capacidade que desenvolvemos de amar com igualdade, é reconhecer nosso grau de parentesco com todas as pessoas. Somente assim podemos seguir elevando-nos rumo à construção de uma confraternidade, ou seja, a reunião de muitas fraternidades, a quebra da separatividade entre os agrupamentos fraternos, através da aceitação das diferenças e do respeito ao momento e às necessidades de cada ser humano, seja no individual ou no coletivo. Por fim, conquistada a confraternidade poderemos, então, conquistar um estado mais elevado do espírito humano que é a “concórdia”. A concórdia é o estado de não julgamento e de absoluta aceitação das Leis da natureza e das diferentes formas de manifestação do divino. Implica a não resistência da alma quanto à sua verdadeira missão e ao mero cumprimento da Lei.
Quando efetivamente nos limpamos de nossas impurezas advindas do ego inferior, passamos cada dia mais a dar o melhor em tudo aquilo que fazemos e, sobretudo, dirigimos nossos pensamentos e ações para o que de fato precisa ser feito. À medida que vamos firmando este comportamento como hábito, inexoravelmente, vamos oportunizando o outro no seu melhor, ou seja, não somente passamos a ser um exemplo, um bom referencial para o outro, como também permitimos que a missão dele seja facilitada e potencializada quanto ao seu correto cumprimento. Em outras palavras:
“Conviver é permitir o melhor do outro.”