É notório que os índices de violência vêm num crescendo nos últimos anos, crescimento esse mais que proporcional ao aumento populacional, em especial nas grandes metrópoles. Não menos preocupante é sua disseminação nas pequenas cidades que, outrora pacatas, agora dividem a violência com os grandes centros urbanos. Sem dúvida, é um dos assuntos que vem tomando a atenção dos governantes e da população em geral. Entretanto, tendo em conta nossa visão parcial do mundo, nossa concepção de violência restringe-se a acontecimentos onde há um atentado à vida ou ao patrimônio de alguém, porém, será isso verdade?
Cabe, então, resgatarmos a etimologia da palavra violência, a qual deriva do latim violentia, que significa “veemência, impetuosidade”, mas que, em sua origem, está relacionada com o termo “violação” (violare).
Quando se trata de direitos humanos, a violência abrange todos os atos de violação dos direitos, sejam eles civis (liberdade, privacidade, proteção igualitária); sociais (saúde, educação, segurança, habitação); econômicos (emprego e salário); culturais liberdade de manifestação da própria cultura) e políticos (participação política, existência e inclusão num ideal político). Portanto, percebemos que a violência não se restringe somente a um ato contra a vida ou contra o patrimônio. Vai muito além. A violência acontece, na maioria das vezes, no campo psíquico relacionado com a dignidade e com a corrupção da própria natureza humana.
De uma maneira geral, atribuímos o crescimento da violência a uma legislação inadequada ou à má distribuição de renda ou às drogas ou à ineficiência do Poder Judiciário e à instituição de Polícia que não se ativa da maneira que deveria. Porém, se prestarmos mais atenção à definição citada, perceberemos que a raiz da violência está no ato da VIOLAÇÃO e não na força empregada. Por violação, entende-se rompimento, ou seja, sempre quando rompemos com a Lei, estamos cometendo um ato de violência.
Romper com a Lei é não observá-la em nossas vidas. Assim sendo, toda violência que se manifesta no externo, nasce primeiro no interno de cada SER por não ter tido discernimento de fazer a escolha pelo seu melhor e acaba, por consequência, escolhendo o que fere a lógica Universal. Por esse motivo, a violência sempre esteve presente no mundo, já que a humanidade vem experimentando e construindo sua história evolutiva. Não obstante nosso atual estado evolutivo, estamos em constante violação às Leis Universais, dentre elas, a Lei da Utilidade, a Lei da Circulação, a Lei do Amor, etc.
“A violência é um estado único de ignorância de si mesmo e das Leis que regem o Universo.” (Academia)
A violência que parece ser externa ao agente ativo, na verdade, já aconteceu no âmago desse. Não há como alguém causar qualquer ato de violência sem antes tê-lo causado a si próprio.
O mestre fundador do Aikido, Morihei Ueshiba, dizia que quando um lutador se decidia a atacar outro, esse, automaticamente, já se tornara um perdedor naquele momento.
A violência não convive com a harmonia. Na verdade, todo ato de violência conspira a favor da desarmonia do Universo em função da desobediência às Leis que mantêm essa mesma harmonia.
Quando rompemos alguma Lei da Natureza, automaticamente, fazemos liberar uma energia oposta da mesma força e proporção que tem por finalidade restabelecer a harmonia anterior. O princípio da bomba atômica é a divisão do átomo rompendo seu estado de equilíbrio e, por consequência disso, liberando uma enorme quantidade de energia proporcional ao tamanho da agressão que o Cosmo sofreu. Essa mesma mecânica ativa-se quando cometemos qualquer ato de violência por mínimo que seja, mesmo que somente em pensamento.
Esse foi o princípio da não violência utilizado por Gandhi para libertar a Índia do domínio da Inglaterra, ainda pouco compreendido por muitos, porém absolutamente eficaz.
“Olho por olho e a Índia ficará cega.“ (Gandhi)
Na busca da solução no mesmo plano onde ela foi criada, muitas correntes levantam a voz a favor da redução da maioridade penal, do enrijecimento das penas, de uma polícia mais rigorosa, da construção de mais penitenciárias, da adoção da pena de morte ou da prisão perpétua ou, ainda, da sumária execução dos delinquentes.
Todavia, a solução de uma problemática jamais obterá êxito no mesmo plano em que foi criada, havendo somente duas formas de pôr um fim à violência – uma falaciosa e outra verdadeira.
A falaciosa vai trabalhar meramente os efeitos da violência, ou seja, sua aparente causa por ação opressora através de leis mais rigorosas aplicadas com maior rapidez que, sem dúvida, servirão para inibir os agentes delinquentes, porém, não eliminarão a causa da violência que jaz no âmago da consciência humana ou, melhor dizendo, da inconsciência humana.
A única forma realmente eficaz passará necessariamente pela educação, que não se restringe a uma mera informação despejada de qualquer maneira sobre uma massa de discentes, mas sim a verdadeira educação que mostrará a cada um a existência das Leis que regem o Universo e porque devemos respeitá-las, ativando nosso lado humano e permitindo que dominemos cada dia mais nosso lado animal, de forma que um dia sequer necessitaremos de Leis escritas, já que essas Leis estarão impregnando nosso verdadeiro SER. Somente assim a violência tenderá a desaparecer da face da Terra por ter desaparecido primeiro de nossos corações.
É muito comum confundirmos poder com violência, acreditando que o poder é que conduz à violência. Entretanto, é exatamente o contrário: o exercício do verdadeiro poder afasta a violência, pois o poder advém do pleno estado de consciência de nossa missão e quando estamos conscientes podemos, de fato, exercer o verdadeiro poder que, necessariamente, conduzirá à harmonia, enquanto que o exercício da ação fora de nossa missão já é a violência. Um exemplo comum disso é alguém que trai sua vocação e ativa-se em uma função que não é de seu agrado simplesmente por dinheiro. Isso não é poder e sim violência contra si mesmo.
Outro item a ser esclarecido é acharmos que devemos ceder a tudo para evitar a violência, porém, ceder a tudo, permitir ser abusado já é por si só um ato de violência. Muitas vezes para evitar que déspotas fiquem à vontade no cometimento de seus abusos, devemos sim dizer NÃO e, frequentemente, isso implicará colocarmos energia e força. Contudo, fazer isso por amor tanto a si mesmo como também pelo déspota, pois, de outra forma, qual chance esse terá de se autoanalisar pelos seus atos se tudo lhe é permitido? Como uma criança pode ser educada se sempre ouve um sim dos pais?
Muitas vezes achamos que a guerra é, por si só, um ato de violência, porém, isso não é verdade – a violência não está no fato em si e sim em seu motor. Alguém pode matar em legítima defesa e não ser necessariamente violento uma vez que a violência, em sua essência, é permitir tudo aquilo que não nos é justo, justeza essa medida pelo mais alto grau.