A Arte, com o decorrer do tempo, vai sofrendo influências do momento que o homem vive. Ao longo da História, podemos constatar que a arte sempre expressou o momento humano, sempre esteve com o homem desde os primórdios da humanidade. Isso se comprova através dos achados arqueológicos, tais como instrumentos de cerâmica, esculturas, telas e até pinturas nas cavernas.
Conforme o dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa, o sentido denotativo da palavra arte, é um conjunto de obras artísticas ou, ainda, é a expressão de um ideal de beleza nas obras humanas.
Portanto, vamos tentar dissecar essa definição de arte, começando pelo conjunto de obras artísticas, o que praticamente é autoexplicativo, pois, quando falamos em Arte, vem-nos uma gama de formas artísticas que são formas de expressão, seja a pintura, a escultura, a música, o teatro, a dança, o cinema, a poesia, a fotografia e outras que em comum podemos definir como arte no mundo moderno. Entretanto, será que uma obra de arte restringir-se-ia a algo previamente rotulado como arte?
Chegaremos à resposta a essa pergunta na sequência do raciocínio para o entendimento da definição acima, ou seja, “a expressão do ideal de beleza nas obras humanas.”
Para tanto, podemos entender que Arte não é qualquer expressão do homem pura e simplesmente, mas sim a expressão do ideal da beleza. Mas, o que seria então esse ideal da beleza?
Em busca dessa resposta, recorreremos ao mestre Platão, que defendia haver um mundo metafísico onde moram todos os arquétipos, os arquétipos de todas as coisas, inclusive o da beleza, a ideia maior do que é belo e de onde se origina toda a expressão do belo, em tudo o que se manifesta.
Quem já não contemplou o pôr do sol ou, ainda, as montanhas, uma flor, um rio, uma cachoeira ou qualquer outra obra natural? Não viu ali a expressão da beleza? Os antigos chamavam isto de “a arte dos Deuses” que, aproveitando a definição acima utilizada, elevando-a, porém, ao mundo superior, seria, o conjunto de obras artísticas, ou ainda, a expressão de um ideal de beleza nas obras divinas, o que hoje simplesmente denominamos Natureza.
Destarte, o homem quando faz arte imita Deus – é a parte divina no homem. Isto é muito lógico já que, conforme o mestre Jesus, somos todos filhos de Deus e, se assim é, como todo filho tem as potencialidades do pai, o homem é, potencialmente, um artista.
Dessa forma, podemos agora definir melhor o que é, e o que não é arte para o homem e, partindo do raciocínio de que arte é a expressão do ideal de beleza nas obras humanas, podemos entender que todas as obras humanas que expressarem esse ideal são formas de arte, de maneira que, qualquer trabalho elaborado pelo homem com amor, estética, buscando a expressão do belo, pode ser considerado arte. Neste contexto, um jardim, uma cadeira, um texto ou qualquer outro objeto material ou intelectual, também é arte, muito embora, tenhamos as formas clássicas conhecidas de arte já previamente rotuladas. Por isso, quando olhamos para o trabalho de determinados profissionais que agem pela vocação, seja ele um dentista, um médico, um engenheiro, um marceneiro, etc., que tenha amor pelo que faz, vemos no resultado de seu trabalho uma obra artística, muito embora, jamais serão expostas em galerias ou museus.
Portanto, o que define se algo é arte ou não, não é estar rotulado como objeto artístico, mas sim sua capacidade de exprimir ou não o ideal de beleza. Contudo, nos dias de hoje, esse conceito está distorcido e, por ignorância, chamamos erradamente de arte, obras intelectuais e objetos que expressam rancor, ódio, que primam pelo feio, expressam a violência, a fome, a miséria, a guerra e toda a sorte de sujeira humana, rotulando isso como arte moderna, como forma democrática de expressão do homem.
Esquecemos, porém, que a arte é uma forma de expressão do ideal de beleza e não do que cada um tem dentro de si, que nem sempre é belo. Confunde-se a busca de Deus pela arte com a busca da depressão, pois quem não sai deprimido de um cinema ou de uma galeria depois de ver uma exposição de tudo o que lembra violência e miséria?
Assim, como outros valores, nos dias de hoje, o sentido da arte está invertido, perdemos a noção de sua essência e pagamos alto preço por isso porque, quando nos afastamos do ideal da beleza, também nos afastamos de Deus, já que este mundo arquetípico está entre o mundo manifestado em que vivemos e a unidade, o divino.
A arte no antigo Egito, ou entre as grandes civilizações como os Maias, os Chineses, etc. era utilizada sabiamente como forma de aproximar o homem de Deus. Tais civilizações conseguiram chegar a um nível tão elevado de arte, que essa permaneceu por muito tempo sem oscilações, fenômeno esse que o homem “moderno”, que vive com toda a sorte de instabilidade, não compreende, pois as mudanças rápidas e bruscas nas formas, nada mais são do que o espelho da instabilidade interna do homem, que hoje se encontra perdido, vazio. É por isso que se esqueceu do que é a arte e não compreende como esta pôde manter-se estável por um longo período de tempo. Pensa que isso representa falta de imaginação ou dotes artísticos mas, ao contrário, representa sim o domínio de uma civilização sobre si mesma em busca de um ideal, o que podemos chamar do verdadeiro sentido da Política.
Para voltarmos à realidade dos dias “modernos”, basta ligarmos o rádio e, imediatamente, deparamo-nos com músicas vazias, sem letra, que buscam expressar sensualidade, violência, que fazem apologia à parte animal do homem. Os poemas, por sua vez, são vazios. Na sua maioria não passam de rimas pobres; o teatro está recheado de palavrões e exibições do corpo; o cinema é um festival de violência, sexo e apologia ao consumismo; as esculturas ou obras denominadas plásticas não passam de rabiscos e manchas disformes que, ao invés de expressarem a ideia da beleza, quando muito expressam o vazio e a perda de referencial de quem as produziu.
Portanto, vamos fazer de nossas vidas uma forma de arte, procurar a cada ação manifestar o ideal do belo, cuidar dos detalhes, por amor no que fazemos, no dia a dia, de maneira a resgatar a ideia da arte, pois viver é fazer arte, somente os verdadeiros artistas podem chegar a Deus.