Segundo a filosofia budista, a compaixão é o amor ativo e jamais pode ser confundido com dó ou piedade. Esses últimos não são exatamente sentimentos, uma vez que se trata de uma pseudo-compaixão.
Cotidianamente deparamo-nos com vítimas de acidentes, de catástrofes naturais, de doenças e, de uma forma geral, com pessoas que se encontram em situações de debilidade, o que desperta em nós um compadecimento passivo que acreditamos ser compaixão. Entretanto, independentemente do nome que damos a esse estado mental despertado em relação ao outro, perceba que esse compadecimento passivo não somente é indiferente com relação às pessoas debilitadas, como também isso não as torna melhores, ou seja, nada muda.
A verdadeira compaixão é resultado de uma alteração para melhor em nosso nível de consciência e, necessariamente, promove uma mudança em todos aqueles que com ela conseguem travar canal de comunicação, ou seja, a compaixão é tanto causa quanto efeito, atuando em três níveis, senão vejamos:
No nível do ser, a compaixão apoia toda a sua existência, pois ela é num primeiro momento resultado de uma autoconstrução. Trata-se de uma união com a Natureza onde aflora nosso verdadeiro EU, nosso verdadeiro SER. Esse estado de consciência basta-se a si mesmo e completa-se por estar conectado com o Universo. Portanto, deixa de depender das formas externas para estar bem, por isso, pode se dizer que, quem de fato alcança esse estado de compaixão, por consequência, também alcança um profundo estado de paz, harmonia e tranquilidade que independe tanto do ter quanto do fazer.
No nível do fazer, a verdadeira compaixão difere muito do conceito comum de que ter compaixão necessariamente implica fazer coisas. Assim, o fazer passa a ser consequência do SER, o que não exclui a afirmação de que o SER também seja consequência do FAZER quando o consideramos como caminho de autoconhecimento.
Como não conseguimos atingir um estado de compaixão de imediato, necessário se faz construirmo-nos a cada dia e aí entra a importância do fazer, pois fazendo aprendemos e nos transformamos. Entretanto, quando já somos, ou seja, quando já tivermos atingido nosso estado de SER, agiremos sempre pelo motor da compaixão e, muitas vezes, a ação sequer será necessária, bastando nossa presença para, então, contaminar as pessoas, plantas e animais com a energia de luz e harmonia que flui através de um ser com compaixão. Nesse estágio, a ação acontece naturalmente e o fazer passa a ser uma ferramenta de união entre os polos quando quem dá e quem recebe tornam-se uma unidade.
No nível do ter, alguém imbuído de compaixão já entendeu que pode possuir tudo o que necessita, porém jamais será o dono. Possuir é relação temporal por necessidade, enquanto ter é relação de apego por identificação, ou seja, escravidão pelo objeto ou pessoa. Assim sendo, alguém com compaixão pode sim possuir muitos bens e riquezas materiais, porém sempre será o senhor delas e não o contrário.
Posto isso, podemos concluir que ter compaixão não significa, necessariamente, lamentar-se pelo outro ou doar todos os seus bens materiais para atender aos aclames daqueles que se dizem necessitados. Pelo contrário, a compaixão independe de tudo isso – é uma visão ainda muito pobre do que, de fato, seja a compaixão.
Toda compaixão inicia-se pelo desenvolvimento da capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, ou seja, vencermos nossa mente egoísta e conseguirmos ver e sentir as dificuldades de nosso irmão. A partir desse ponto floresce a compreensão, cessando os julgamentos e as críticas e, somente então, poderá vir uma ação consciente e oportuna para ajudar naquilo que de fato seja necessário.
Destarte,