Se essa pergunta for feita a algum cientista da área médica nos dias de hoje, certamente teremos uma resposta dentro do campo da patologia, atribuindo suas causas a viroses ou a qualquer outro desequilíbrio funcional de nosso organismo e que, na maioria das vezes, é suficiente para justificar sua existência. Porém, essa mesma pergunta dirigida a um filósofo, provavelmente, terá uma resposta decerto surpreendente para quem vive cercado de referências materialistas. Vejamos, então:
As doenças acompanham a humanidade desde seu surgimento e vêm ao longo do tempo, como qualquer ser vivo, adaptando-se às novas condições impostas pela natureza humana. As doenças não existem para o homem, muito menos o homem para as doenças, e sim cada um deles está em seu papel como num teatro onde os personagens interagem cada um em sua função.
Temos de, primeiramente, entender que não somos o centro do mundo, muito menos o centro do Universo, somos simplesmente parte disso tudo. Não há como fazer uma peça de teatro apenas com o iluminador. O evento somente será possível se cada um fizer a sua parte, ou seja, se alguém da equipe não cumprir seu dever provocará um desequilíbrio no sistema e, consequentemente, uma contraforça surgirá, independentemente da vontade do agente, que visará ao retorno ao equilíbrio. O desequilíbrio surge quando agimos contra as leis da Natureza. A contraforça que busca rearmonizar o sistema é o que chamamos de doença.
Os hindus conheciam bem as leis do Dharma e do Karma e nomearam como Dharma, a Lei Universal, a harmonia, a Lei divina que tudo rege, ou seja, como de fato têm de ser as coisas. Chamaram de Karma a manifestação dessa Lei. No campo material, a Ciência já conhece há um longo tempo a lei de causa e efeito, “a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade” (Isaac Newton). Os hindus, porém, foram mais adiante e reconheciam essa lei da causalidade nos campos mais sutis do homem e não somente no campo físico.
A essa lei submete-se tudo o que é manifestado. Ela abarca todo o Universo que vemos e o que não vemos, pois tudo tem de estar conforme a ordem, tudo tem de expressar os arquétipos divinos, ou seja, tudo o que não está de acordo com o Dharma submete-se, automaticamente, à força do Karma para se corrigir. Essa é uma benção divina, é nosso professor corrigindo-nos. Muito embora essa manifestação seja sofrimento e dor, ela vem acobertada de misericórdia e amor. Em paralelo, podemos comparar a palmada da mãe no filho, que jamais quer seu mal, muito pelo contrário.
Nesse contexto surgem as doenças que são nada mais nada menos que processos de dor tendendo a corrigir desequilíbrios, corrigir nossa rota rumo ao Dharma, rumo a Deus.
O processo cármico divide-se em três grandes grupos: o primeiro é o chamado karma pessoal. São karmas de curta manifestação, são os que ocorrem durante uma vida, aquilo que fazemos e cujo resultado colhemos nesta mesma existência. Temos, em segundo, o karma individual. Esses karmas são aqueles que, em face de sua profundidade e abrangência, transferem-se de uma vida para outra, ou seja, acompanham-nos em nossas reencarnações até que, finalmente, sejam totalmente limpos. Por último, temos o karma coletivo, que abrange a humanidade como um todo, já que o homem, muito embora seja um indivíduo, não deixa de fazer parte de uma alma universal, que é a alma da humanidade como um todo, o que nos faz todos irmãos. Esse karma faz-nos entender também o porquê dos raios ultravioletas que atravessam a camada de ozônio agredida pelo homem, sem fazer distinção, provocarem doenças em crianças que nunca nesta vida sequer imaginaram ou contribuíram para as causas que destroem o ozônio ou, então, por que tantas crianças morrem de fome sem nada terem feito para isso.
Deus é justiça. Portanto, se não vemos justiça nas coisas certamente não é por ela inexistir, mas, provavelmente, por não termos a consciência desenvolvida ao ponto de enxergarmos as mãos de Deus operando milagres até nas coisas que consideramos mais nefastas e injustas.
Assim, as doenças são parte disso tudo. Sem elas o homem, certamente, não seria o que é hoje, pois elas, independentemente da evolução da Medicina, têm cumprido seu papel nesta grande peça teatral.
Na grande maioria das vezes, o homem, não enxergando isso, trabalha as doenças tentando eliminá-las como se elas não fizessem parte do contexto universal. Essa cegueira tem-nos custado caro, pois essa separatividade mental não nos permite buscar as verdadeiras causas das doenças, que são efeitos e não causas. As causas estão em nossa desarmonia com as leis divinas. A causa é o nosso desequilíbrio interno.
Querer eliminar as doenças é como eliminar alguém que não concorda com nossas ideias – é um princípio animal e não verdadeiramente humano. Temos de harmonizar, entender qual é a lei e sermos essa lei, agirmos conforme essa lei e o sofrimento desaparecerá. Conviveremos com a doença, assim como convivemos hoje, na condição de adultos, com diversas coisas que na condição de crianças nos afetavam.
O homem precisa compreender que a evolução científica, que tem por fim ela mesma e não enxerga além dos vírus, jamais solucionará as doenças, pois a cada vitória comemorada, novas doenças aparecerão. Os vírus, as bactérias, o mundo microscópico em geral, sofrerão mutações, as doenças sutilizar-se-ão, passarão a atingir níveis mais sutis do homem e deixarão a milagrosa ciência das pílulas para trás “comendo poeira”.
Os gregos diziam “mente sã, corpo são” e não devemos menosprezar tão profundo conhecimento clássico. Eles já sabiam que toda doença é fruto da somatização de elementos mais sutis no homem. O verdadeiro médico não trata as doenças somente no físico, esse trabalho tem de ser feito em paralelo com nosso mental e nosso emocional. Em outras palavras, no resgate da ética de cada um, pois ser ético é estar conforme a Lei – o Dharma, esta sim é a verdadeira medicina. Um verdadeiro médico não se reconhece pelos trajes brancos ou por um diploma, mas sim pela sua consciência de que a medicina se aplica primeiro na alma, muito contrariamente ao que se pratica nos dias de hoje, que se restringe à aplicação da medicina corretiva em nosso corpo físico e se esquecem as verdadeiras causas.
Sendo as doenças manifestações somatizadas de questões antiéticas, ou seja, da conduta da alma que está utilizando inadequadamente a mente, as emoções e o corpo físico, podemos, aplicando nossa inteligência, discernir e identificar algumas relações entre as doenças e nosso comportamento, tanto no nível individual como coletivo. Vejamos alguns exemplos:
Ou seja, cada ser humano é um universo distinto, cada um de nós tem seus pontos fracos e fortes. Temos órgãos mais débeis, mais susceptíveis às doenças e a questão não é simplesmente tratar as doenças e sim identificarmos quais são suas verdadeiras causas e, em paralelo, trabalhar essas causas. Só assim nos livraremos delas, pois toda doença tem sua origem na questão ético-moral.
Seja seu próprio médico, cure sua alma para não precisar curar o corpo, tome uma dose de ética todos os dias. Uma dose já é bastante, mas que seja todos os dias, uma vez que, como dizia Platão, pobre do homem que precisa de um médico, pois desvirtuou a função do corpo e da alma.