Fazemos muitas coisas todos os dias, porém, sequer paramos para pensar qual é o motor que nos impulsiona a essas ações – são movimentos continuados e mecanizados. Pensamos, fazemos e sentimos tudo ao mesmo tempo, mas não paramos para analisar o porquê de agirmos desta ou daquela forma.
Dessa maneira, vamos levando a vida passando por ela sem deixar marcas que, de fato, valham a pena e que justifiquem nossa existência. A maioria morre sem deixar qualquer rastro da vida que teve, isso quando não deixa uma relação de problemas para seus herdeiros e sucessores. A dura realidade é que a maioria não fará falta alguma, além de arrebatar alguns choros egoístas daqueles com quem conviviam mais intimamente. E por que isso acontece?
Por um simples motivo: o motor da sua vida é o medo e não o amor.
Por amor entendemos um sentimento puro e altruísta, desinteressado, livre e absoluto e por medo entendemos todo estado de alma que não é permeado pelo amor. Na verdade, somente existem duas forças aparentemente opostas, que são os motores do movimento do mundo – a primeira é o amor e a segunda o medo.
Quando não estamos no amor, inexoravelmente, estamos no medo. Assim como o amor nos conduz a uma sensação de plenitude e felicidade, o medo nos conduz a uma sensação de perda e de dor.
Observe o movimento do mundo e como as pessoas, de uma forma geral, movem-se pelo motor do medo: mantêm-se no trabalho por medo de perder o emprego e de passar por necessidades; tomam atitudes para serem aceitas pela sociedade por medo da solidão; deixam de cometer ações antiéticas por medo da reação do outro; respeitam as leis de trânsito por medo de serem multadas ou de se envolverem em acidentes; pagam suas contas por medo de serem incluídas na lista de inadimplentes e assim por diante. Nossas ações, em sua maioria, alimentam-se da raiz do medo.
Pelo medo mantêm-se sistemas políticos e econômicos injustos; pelo medo do inferno buscamos a religião e pelo medo da morte buscamos prolongar a vida a qualquer preço. Porém, sequer percebemos que agir pelo medo é agir contrário à vida, pois, quando agimos pelo medo, tornamo-nos escravos dele. Não somos mais nós que decidimos o que deve ser feito e como deve ser feito, assim como o que não deve ser feito, mas sim é o medo que define nossa vida e, consequentemente, nosso futuro.
Quando falo do medo não me refiro à prudência, que em si é uma virtude, pois, enquanto a prudência é um ato de amor a si mesmo, o medo é a própria condição do desamor.
Cercar-se de cuidados ao desenvolver um projeto, ao concretizar um negócio, zelar por um futuro planejado é não somente amar a si mesmo como amar os demais. Portanto, o medo a que me refiro é o antônimo da prudência.
Nossa sociedade encontra-se cada dia mais mergulhada no medo e esse é alimentado pela dúvida e pela incerteza que, a todo o momento, invade nossas vidas através de nossos sentidos. Basta ligar o televisor para sermos bombardeados por notícias de assaltos, mortes, acidentes e tudo o mais que vai trazer-nos a dúvida se amanhã não seremos nós a próxima vítima. Assim, entramos num círculo vicioso que nos conduz cada dia mais a um colapso psíquico.
Basta pararmos para analisar com mais profundidade e perceberemos que deixamos de trabalhar nosso melhor em detrimento de nosso pior, pois não alimentamos ações amorosas em nossa vida ou ações desinteressadas que de fato alimentem a alma. Somos induzidos a buscar o pior para nós e nos tornamos violentos, intolerantes e passivos, resultado de vivermos com temor. E o que tememos?
Invariavelmente tememos apenas uma coisa que depois se dissocia em muitas outras. Nosso verdadeiro temor é sermos verdadeiramente livres e senhores de nós mesmos e, por incrível que pareça, é o que todo mundo afirma que está buscando, porém não o está verdadeiramente.
Por medo vivemos de aparências, sempre buscando o aval da sociedade: dizemos uma coisa e fazemos outra, sentimos uma coisa e falamos outra. Essa vida desconexa decorre de uma personalidade mórbida formada basicamente pela postura do medo de perder. Essa personalidade que sempre teme perder não somos nós, é o nosso EGO, que reina em tempos de medo.
O ego, sobretudo, teme perder seu trono, por isso tememos as mudanças e o desconhecido. Somente quando saímos do ego saímos do medo – um não vive sem o outro – de forma que o amor incondicional não tem suas raízes no ego, mas sim no Eu Superior, no que chamamos de Essência, de Espírito, de Chispa Divina.
Quando vivemos no medo, concomitantemente, vivemos no sofrimento – basta termos algo que logo estaremos sofrendo por medo de perdê-lo. Isso não acontece quando vivemos no amor. O Eu Superior, por viver no amor, vive a união com o Universo, desprendido, pois nada busca para si e, não tendo o que perder, está livre do medo.
Quem se une ao Universo tem tudo a seu dispor na hora e na quantidade que precisar e, por isso, nada precisa temer. Isso se chama liberdade, que vai bem além do conceito vulgar da simples possibilidade de escolher entre duas ou mais alternativas, pois, quem vive no medo sempre escolherá a pior para si mesmo. É por essa razão que a vida da maioria das pessoas não reflete uma evolução espiritual.
Pare e analise-se. Observe os atos de sua vida e descubra por qual dos motores você está agindo. O mais importante não é o que fazemos, mas sim o porquê fazemos. Podemos fazer muitas coisas, porém, se as fizermos pelo motor errado de nada terá valido, a não ser tornar-nos mais escravos de nós mesmos.
A própria ação em busca de uma carreira profissional brilhante é, na maioria das vezes, uma ação motivada pelo medo: medo de se tornar um medíocre profissional; medo de não ser reconhecido; medo de ficar aquém daqueles que são seus referenciais, etc.
Como podemos ver, o medo jaz de uma maneira muito sutil sob nossa maneira de pensar e de agir. Portanto, necessário se faz muita autoanálise e muito esforço para afastarmos o medo de nossa vida e substituí-lo pelo amor incondicional, que é a única fonte verdadeira da ação.
Tudo o que já fizemos e o que ainda faremos, cujo motor seja o medo, somente nos trará sofrimento e dor, porém, tudo o que fizermos por amor incondicional jamais morrerá, por ser ele a única verdade existente. Todo o resto é ilusão.