Muito se fala de planejamento, porém pouco se planeja da vida. No mundo corporativo podemos observar que as empresas com maior capacidade administrativa jamais abandonam um programa de planejamento de curto, médio e longo prazo. São essas corporações que mais prosperam.
Será uma mera coincidência? Claro que não! O planejamento nos possibilita trilhar um caminho mais seguro e nos proporciona uma série de vantagens que podem ser evidenciadas quando comparadas àqueles que não se planejam.
Percebe-se uma grande carência de planejamento no campo pessoal. Mesmo aqueles que se envolvem e conhecem as mais afinadas técnicas de planejamento no mundo organizacional, pecam por falta de planejamento da sua própria vida.
Tanto é fato que esses executivos, em sua maioria, não têm tempo para a família, não acompanham o crescimento dos seus filhos, negligenciam a saúde, são presas fáceis do alcoolismo, da depressão, da ansiedade, do estresse etc. ocorrências essas que expõem a falta de planejamento de vida.
Tantos outros são pegos de surpresa por um negócio que fracassou, uma morte em família, uma enfermidade, o desemprego ou uma necessidade de mudança de planos que não foi prevista. Portanto, pela ausência de um planejamento.
O planejamento, não é somente uma ferramenta administrativa, é muito mais que isso . Planejamento é uma virtude . Planejar é uma capacidade de prever, enxergar antecipadamente fatos e ações a serem tomadas ante esta ou aquela realidade, muito semelhante ao jogo de xadrez, onde a cada movimento de peça de um enxadrista cauteloso, certamente já estão previstos os movimentos de resposta mais prováveis, de maneira que já se sabe antecipadamente, em probabilidade, qual será o próximo movimento do adversário.
Percebo que a maioria das pessoas não se ativa em planejar a vida e, exatamente por esse motivo, vivem a solucionar fatos emergenciais em detrimento de fatos importantes da vida.
Um verdadeiro planejamento exige algumas qualidades que passo a analisar articuladamente as quais necessitamos ativar para obtermos bons resultados na nossa encarnação.
Enfim, planejamento como virtude compõe-se do conjunto de outras qualidades que devemos desenvolver em nós.
Planejar não é exatamente ter um plano, pois quem tem um plano corre o risco de não ter confirmada sua precisão perdendo o plano e, consequentemente, o planejamento. Daí , portanto , que planejar é ter diversas vias de ação, onde uma apoia a outra. Por exemplo, alguém que planejou sua aposentadoria contando apenas com a receita oriunda do sistema de previdência social poderá ser surpreendido caso esse sistema sofra grandes alterações ou mesmo venha a se tornar insolvente, o que afetará outros aspectos do seu futuro. Portanto, planejar é prever e contar com diversas possibilidades.
Planejar a vida é estruturar um conjunto de ações que, em sinergia, objetivam maximizar nossos recursos com a finalidade de propiciar uma vida harmônica e, consequentemente, útil. Se considerarmos que o sentido da vida está no estado de utilidade de cada “ser”, quando o ferimos, ferimos também a nossa própria existência.
A vida, apesar de ser definida por números e ser uma grande equação, conta com variáveis que, escolhidas tanto por nós quanto pelos demais, está sujeita à Lei da impermanência, decorrendo daí a necessidade de sabermos planejar para construir uma vida de sucesso rumo ao elevar de consciência. Ou seja, tudo muda independentemente da nossa vontade e a grande questão, então, é como interagiremos com esta nova realidade que surge a cada instante.
Imagine alguém se propor a construir uma casa sem planejamento. Certamente julgaríamos uma ação negligente e irresponsável, porém, não nos perguntamos se a nossa vida como uma obra a ser construída dia a dia, foi planejada. Isso posto, este fato revela nossa irresponsabilidade e negligência ante a vida.
Planejar não é o mesmo que possuir planos, planejar é, sobretudo, criar possibilidades de vida para o fiel cumprimento da nossa missão.
Alguns fatores, habilidades/qualidades e virtudes deverão entrar em atividade quando nos dispomos a, de fato, planejar a nossa vida com seriedade, quais sejam:
A lógica como disciplina prevê a utilização de um raciocínio harmônico e a ponderação entre os opostos para então discernir sobre o que seja ou não seja real, proporcionando uma relação equilibrada entre argumentações.
Prever situações futuras depende do desenvolvimento do raciocínio das probabilidades que cada situação da vida nos exige, para que possamos prever reações tendo em vista as leis materiais e espirituais, de acordo com cada escolha que fazemos. Assim como um enxadrista que, quando se decide por um movimento, deve estudar as possibilidades de reação do oponente.
Não podemos confundir prudência com medo; enquanto a prudência é uma virtude, o medo é uma debilidade. A virtude da prudência carrega em si não somente o amor próprio, por procurar preservar-se a fim de proteger sua integridade e, concomitantemente, colocar-se em primeiro lugar, como também contextua o outro, já que o nosso acerto possibilita também o melhor do outro e, consequentemente, o melhor para o todo. Podemos entender isso no mero exemplo de alguém dirigindo um veículo com cautela: ao mesmo tempo em que protege sua integridade física e seu patrimônio, protege a integridade física e a propriedade do próximo.
A capacidade de estruturação deve e pode ser desenvolvida através do estudo e do treinamento. Estruturar significa ser capaz de organizar as diversas etapas e ações que compõem um plano maior. Existem técnicas administrativas criadas pelo homem com esse objetivo, como a “rede pert CPM” ou o sistema “kamban” entre outros. Ou seja, dependendo da complexidade do planejamento exige-se na mesma proporção uma capacidade de estruturação das tarefas, capacidade de delegação, eleição de pessoas, lógica nas ações, temporalidade de cada feito, etc.
Faz-se necessária já que o tempo é vida. Ao desperdiçarmos o nosso tempo estamos desperdiçando a nossa vida. Para uma boa administração do tempo, devemos nos esforçar em manter o plano original, de forma que um apoiará o outro, ou seja, a existência de um planejamento conduz e facilita todo aquele que tende a otimizar o seu tempo, bem como a boa administração do tempo leva à eficiência na boa execução do planejamento.
Certamente todo aquele que deseja levar a termo a execução de um bom planejamento, deve se utilizar das capacidades da atenção e da concentração, pois, como ferramentas psíquicas, possibilitam que a energia necessária para a execução de cada etapa das tarefas esteja presente em quantidade e qualidade para poder potencializar a ação propriamente pré-determinada.
1) Estabelecer suas prioridades – A falta de tempo tem sido uma desculpa muito comum das pessoas que deixaram de fazer aquilo que deveria ter sido feito, porém, afirmo que o que nos falta não é tempo e sim prioridade.
Normalmente desconhecemos os nossos objetivos e, por conta disso, tocamos uma vida mais focada nas urgências do dia a dia do que efetivamente nos objetivos a serem atingidos. Isso se dá pelo simples fato de sequer estabelecermos uma hierarquia do que de fato queremos para nós durante esta encarnação.
Recomendo que o planejamento se inicie pela definição do nosso grande objetivo, seguido de outros escalonando em uma formatação piramidal segundo a grandeza de cada um, excluindo-se objetivos impossíveis e medíocres.
2) Estabelecer as metas temporais – Todo bom planejamento deve acompanhar um ciclo temporal, ou seja, além de estabelecer os objetivos claramente, esses objetivos devem obedecer a ciclos temporais. Essa regra se faz importante, pois cada meta deve estar sincronizada com os demais objetivos, ou seja, o cumprimento de um objetivo deve, necessariamente, potencializar a ocorrência de um ou mais na sequência. Ex. Para podermos adquirir um determinado bem, devemos, pregressamente, juntar os recursos financeiros necessários.
Assim sendo, quando elaborar o seu planejamento, determine um prazo para cada tarefa/objetivo e cumpra-o com determinação e disciplina.
Esse princípio também contempla a separação de cada objetivo segundo o prazo estabelecido, sejam os de curto, de médio ou de longo prazo. Exemplos: Regularizar uma escritura pode estar no curto prazo, fazer um determinado curso, pode figurar no médio prazo e consolidar uma previdência privada pode estar no âmbito do longo prazo, porém, não obstante em qual dos três ciclos temporais esteja, as ações devem ser ativadas no presente.
3) Buscar os recursos necessários – Ante a determinação dos seus objetivos hierarquicamente ordenados segundo suas prioridades e já com o prazo temporal estabelecido para cada um, é o momento para estabelecer de onde virão os recursos necessários para a implementação de cada um deles. Assim sendo, devemos sempre planejar com antecedência os recursos financeiros, o tempo e a capacitação no que tange ao recurso humano. Isso posto, um bom planejamento deve contemplar o “como fazer”.
Um planejamento de vida nunca falhará, pois não visa em si mesmo chegar a lugar algum; o cerne de um planejamento é possibilitar o “caminho”.
Conclusão: Um planejamento de vida, seja a curto, médio ou longo prazo não pode ser institucionalizado e sequer tornar-se um peso a mais na vida já tão carregada de atividades, pelo contrário. Um planejamento de vida visa simplesmente estabelecer e organizar a nossa psique quanto ao que deve e ao que não deve ser feito, de forma a selecionar melhor os nossos afazeres, eliminando todo aquele que não nos alimenta a alma e dando espaço para outros que farão a diferença em nossa vida. Por isso, um planejamento deveria fazer parte já da nossa infância, adolescência e maturidade, ou seja, todas as fases da vida e por isso não ser exceção e sim regra. Quando falamos em planejar a vida muitos poderão interpretar mal e possivelmente tornar-se-ão resistentes à ideia, vez que entenderão ou que não possuem tais habilidades, ou que seja maçante ou desnecessário, porém, o fato é que a falta de um planejamento de vida por si só já revela a nossa indolência espiritual.
Toda a existência e todo o Universo é um plano divino, portanto, a nossa felicidade deve ser planejada.